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Novo estudo revela que cientistas de todo o mundo alertam para o estado crítico da saúde dos oceanos e da biodiversidade

Asun Talavera

Se forem tomadas medidas imediatas, existe otimismo quanto à possibilidade de reverter os impactos negativos

Lançamento do novo relatório da MSC “A conservação da vida marinha: a pesca sustentável favorece a biodiversidade”.

Lisboa, 6 junho 2025. – Cientistas de todos os continentes habitados concordam que a biodiversidade dos oceanos está ameaçada. No entanto, segundo um novo inquérito conduzido pelo Marine Stewardship Council (MSC) no contexto do Dia Mundial dos Oceanos (8 de junho) e da Conferência das Nações Unidas sobre os Oceanos (9 a 13 de junho), há motivos para otimismo, desde que sejam tomadas medidas imediatas.

A análise dos resultados, realizada pela consultora internacional GlobeScan, revelou que mais de dois terços dos quase 60 especialistas de renome em ciências do mar consultados identificam as alterações climáticas como a maior ameaça à saúde e à biodiversidade dos oceanos. No entanto, a sobrepesca e a degradação dos habitats marinhos também foram apontadas como causas de elevado impacto.

Apesar das preocupações, quase metade (45%)  demonstraram otimismo, salientando os avanços científicos e as políticas públicas como razões para acreditar em progressos significativos na proteção dos oceanos – um sentimento partilhado no documentário “Ocean”, recentemente lançado com narração de David Attenborough.

Cientistas de países como as Ilhas Salomão, Costa Rica, Finlândia e Japão sublinharam a necessidade de acelerar e alargar a implementação de políticas internacionais, tratados e quadros de governação para garantir oceanos saudáveis para as gerações futuras. Destacaram ainda as abordagens regionais à gestão sustentável das pescas, que já estão a produzir resultados positivos na inversão das tendências negativas.

No seguimento do inquérito e tendo em vista a Conferência das Nações Unidas sobre os Oceanos, a realizar-se em Nice, França, o encontro deverá servir de catalisador para que os Estados ratifiquem o Acordo sobre a Biodiversidade Marinha em Áreas Fora da Jurisdição Nacional (conhecido como BBNJ ou Tratado do Alto Mar). Para que o tratado entre em vigor, é necessário que pelo menos 60 países procedam à sua assinatura. Este acordo visa promover a conservação e a utilização sustentável da biodiversidade marinha em áreas situadas além das jurisdições nacionais.

A Dr.ª Beth Polidoro, Diretora de Investigação do Marine Stewardship Council, afirmou: «Cientistas de todo o mundo concordam que os nossos oceanos estão ameaçados pela atividade humana, seja devido à sobrepesca ou às alterações climáticas persistentes.

No entanto, há um lado positivo: ainda estamos a tempo de inverter esta trajetória, travar os impactos negativos e garantir oceanos saudáveis e cheios de vida para as gerações futuras.

As pescarias que já demonstram este compromisso devem ser apoiadas. Cabe aos governos criar condições favoráveis para que estes progressos possam ser acelerados a nível global.»

Além disso, o Marine Stewardship Council publicou o relatório Preservar a vida marinha: como a pesca sustentável apoia a biodiversidade, que apresenta uma seleção de estudos de caso exemplares em que pescadores recorrem a tecnologias, ferramentas e técnicas variadas para minimizar o seu impacto na biodiversidade marinha e proteger a vida nos oceanos a longo prazo.

Peter Thomson, enviado especial do Secretário-Geral das Nações Unidas para os Oceanos e autor do prefácio do relatório, afirmou: «Sabemos que a pesca sustentável funciona melhor quando combinamos as ações positivas dos governos, da indústria, das comunidades locais e das organizações internacionais.

Estas histórias inspiradoras demonstram que a proteção da biodiversidade e a produção sustentável de produtos do mar são duas faces da mesma moeda.»

O relatório apresenta exemplos de pescarias em várias partes do mundo, destacando mudanças positivas e inovadoras implementadas para proteger espécies ameaçadas e em perigo de extinção – incluindo pelicanos no Golfo da Califórnia, tartarugas no Oceano Índico, tubarões no Pacífico Oriental e botos no Mar Céltico.

Respostas ao inquérito:

«Com boa ciência e boa governação, o declínio da saúde e da biodiversidade dos oceanos pode ser travado e, com o tempo, revertido.» Dr. Francis C. Neat, Professor de Pesca Sustentável e Biodiversidade Oceânica, Universidade Marítima Mundial, Malmö, Suécia.

«Existe uma consciência crescente de que a sobrevivência da humanidade depende de oceanos saudáveis. Já alcançámos alguns sucessos e sabemos o que é necessário para uma gestão eficaz das pescas. Com espaço e tempo, o oceano tem capacidade para recuperar.» Dr.ª Charlotte Hopkins, Universidade de Hull, Reino Unido.

«O oceano é notavelmente resiliente, se lhe dermos essa oportunidade. Mas isso exigirá uma mudança naquilo que a maioria das pessoas valoriza. Portanto, para salvar o oceano (e a nós próprios), é necessário mudar a sociedade, e isso requer o esforço conjunto de todos.» Dr.ª Judy Mann-Lang, Fundação Two Oceans Aquarium, África do Sul.

«Em última análise, trata-se de um problema que afeta diretamente as pessoas – um oceano degradado dificulta a nossa vida. A pesca é a atividade mais simples de gerir, mas representa um desafio permanente, já que outros fatores externos afetam as populações de peixes.» Dr. Alexander Fordyce, cientista sénior da Nature-based Insights, Universidade de Oxford.

«Apesar dos atuais desafios para a saúde dos oceanos, mantenho o otimismo devido à crescente sensibilização e mobilização global em prol da conservação marinha. Os avanços científicos, as regulamentações mais rigorosas sobre a poluição por plástico e os esforços para conter as alterações climáticas oferecem esperança de que os oceanos possam recuperar – desde que estas medidas sejam alargadas e sustentadas.» Dr. Transform Aqorau, Vice-Reitor, Universidade Nacional das Ilhas Salomão.

«Em algumas zonas da nossa região, a ausência de regulamentação e de uma implementação eficaz da gestão das pescas resultou na sobrepesca de muitas populações e, mais importante ainda, na destruição de habitats. No entanto, acredito na capacidade de regeneração da natureza. Os ecossistemas oceânicos possuem uma resiliência intrínseca e, com boa gestão e cuidados adequados, podem recuperar.» Dr. Sunil Mohamed, presidente da Rede de Produtos do Mar Sustentáveis da Índia e cientista sénior aposentado do Instituto Central de Investigação Pesqueira Marinha, Índia.

«Vivemos tempos de grande incerteza, mas, apesar de tudo, algumas zonas marinhas demonstraram ser mais resilientes do que se esperava. Isso permite algum otimismo em relação a determinadas regiões. No entanto, essa resiliência não se verifica em todo o sistema.» José Alberto Zepeda Domínguez, professor e investigador, Universidade Autónoma da Baixa Califórnia, Sistemas Socioecológicos Marinhos.

«Dou aulas de política marinha e conheci jovens extremamente inteligentes e motivados para ajudar. Isso, mais do que qualquer outra coisa, dá-me esperança. Mas os desafios que enfrentamos são muito sérios.» David Shiffman, biólogo marinho na Universidade Estadual do Arizona.

FIM

NOTA PARA OS EDITORES

Para obter mais informações ou para agendar uma entrevista com um dos especialistas nesta matéria, entre em contacto com:  [email protected] | +34 676 016 630

Sobre o inquérito

O inquérito online realizado pelo Marine Stewardship Council (MSC) consistiu em sete perguntas dirigidas a cientistas marinhos de todo o mundo, com o objetivo de recolher opiniões sobre as ameaças e oportunidades associadas à saúde e biodiversidade dos oceanos. O questionário foi respondido ao longo do mês de março de 2025 por 58 especialistas.

Sobre o relatório Preservar a vida marinha: como a pesca sustentável apoia a biodiversidade,

Este relatório apresenta exemplos inspiradores – e, em alguns casos, surpreendentes – de como pescadores em todo o mundo estão a adaptar e a aperfeiçoar as suas práticas para pescar de forma sustentável, ao mesmo tempo que minimizam o impacto sobre a biodiversidade marinha.

Ler o relatório na íntegra

Imagens e vídeos relacionados com o relatório disponíveis aqui  (legendas e créditos nos títulos dos ficheiros multimédia)

Factos e números importantes:

Relatorio-Preservar a vida marinha-MSC_PT
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CdI-relatorio-biodiversidade-MSC-Dia Mundial dos Oceanos_PT
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