ANOPCERCO e OPPs Cantábrico lideram aliança pioneira que garante certificação para a sardinha atlântica
Pescaria de cerco é a primeira a obter a certificação MSC através de uma parceria entre frotas de Espanha e Portugal
Madrid / Lisboa, 7 de julho de 2025 – A frota de cerco portuguesa, liderada pela Associação Nacional das Organizações de Produtores da Pesca do Cerco (ANOPCERCO), e a espanhola, através da Associação de Organizações de Produtores da Pesca do Cantábrico (OPPs Cantábrico), obtiveram a certificação do Marine Stewardship Council (MSC) para a sardinha ibérica (Sardina pilchardus) da Costa Atlântica. Este reconhecimento valida o compromisso de ambas as frotas com a sustentabilidade e garante aos consumidores que a sardinha ibérica capturada por este método provém de fontes ambientalmente sustentáveis e respeitadoras do meio ambiente.
A pescaria de cerco superou uma rigorosa avaliação independente realizada pela Bureau Veritas, iniciada em setembro de 2024, e cumpre os três princípios fundamentais do padrão MSC: saúde da população de sardinha, impacto mínimo no ecossistema marinho e uma gestão eficaz e transparente da pescaria.
A sardinha ibérica é um recurso-chave para Portugal e Espanha, com presença desde o Golfo da Biscaia até o Estreito de Gibraltar. Para o ano de 2025 as possibilidades de captura de sardinha foram definidas em 51 738 toneladas, das quais 66,5 % (34 406 toneladas) correspondem a Portugal e 33,5 % (17 332 toneladas) a Espanha. As capturas certificadas, abrangidas pelo Selo Azul do MSC, são feitas por uma frota de 317 embarcações especializadas, sendo 132 delas portuguesas e 185 espanholas.
Neste ano, a campanha de pesca da sardinha no norte de Espanha teve início a 19 de março, enquanto em Portugal começou a 21 de abril, prolongando-se até que as respetivas possibilidades de pesca sejam alcançadas.[RS1] Durante o período de avaliação, as capturas de sardinha, armazenadas por membros do grupo cliente, são elegíveis para ostentar o Selo Azul do MSC, o que certifica a sua origem sustentável e responsável.
Este feito foi alcançado graças ao esforço coordenado de toda a cadeia de valor do setor. O grupo certificado integra 15 organizações de produtores de pesca de Espanha e Portugal, bem como três associações industriais portuguesas: Associação Nacional dos Industriais de Conservas de Peixe (ANICP), Associação Nacional da Indústria pelo Frio e Comércio de Produtos Alimentares (ALIF) e Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED). Todas as organizações de produtores portuguesas estão agrupadas na ANOPCERCO, enquanto em Espanha estão agrupadas nas OPPs Cantábrico. Esta colaboração exemplar, e única no programa do MSC, entre pescadores, indústria transformadora e distribuidores foi fundamental para alcançar a certificação e avançar para uma pesca mais sustentável e responsável.
Com esta certificação, a pescaria de sardinha ibérica reafirma o seu compromisso com a sustentabilidade. Até agora, apenas a frota portuguesa detinha esta certificação, suspensa em 2014 face aos desafios na gestão do recurso. Desde então, foram implementadas importantes melhorias, com destaque para o novo plano plurianual de gestão em vigor até 2026, acordado em 2021 entre Portugal e Espanha. Este plano regula as possibilidades anuais de pesca, os períodos de defeso e os limites à pesca de juvenis, entre outras medidas, para garantir uma gestão sustentável e coordenada deste recurso partilhado.
Com a primeira certificação, em 2010, Portugal criou a Comissão de Acompanhamento da Pesca da Sardinha, um órgão-chave que reúne cientistas, gestores, setor pesqueiro e ONGs. Esta comissão tem sido fundamental na monitorização e adaptação contínua das medidas de gestão, contribuindo de forma decisiva para a recuperação e conservação da sardinha a longo prazo.
Compromisso com a sustentabilidade do recurso
A gestão da sardinha ibérica, vital no ecossistema atlântico-ibérico e fundamental para a cadeia alimentar marinha, exigiu a adaptação contínua das capturas e a aplicação de medidas técnicas para garantir a recuperação do stock e a proteção do ambiente marinho.
Esta certificação resulta da inovação científica, cooperação internacional e do impacto socioeconómico positivo da pescaria. Projetos desenvolvidos pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) e pelo Instituto Español de Oceanografía (IEO) trouxeram novos conhecimentos sobre o ecossistema e melhoraram os modelos de gestão. A colaboração entre frotas, cientistas, administrações e empresas de Espanha e Portugal foi essencial para alcançar este reconhecimento. Além disso, a sardinha ibérica sustenta milhares de empregos e representa um pilar cultural e económico para muitas comunidades costeiras.
Nesta avaliação, o padrão de Pesca MSC valoriza a sardinha como espécie-chave no ecossistema, exigindo aos avaliadores independentes uma abordagem mais cautelosa no cumprimento dos critérios ambientais.
Melhoria contínua
A certificação MSC não é um ponto final, mas um compromisso de melhoria contínua. A pescaria comprometeu-se, num período de cinco anos, a expandir a cobertura de observadores independentes a bordo, melhorar o registo de interações com espécies não-alvo, avaliar o impacto sobre espécies protegidas, fortalecer os mecanismos de controlo e cumprimento, e promover formação especializada. O acompanhamento e cumprimento destas melhorias serão verificados através de auditorias anuais realizadas pela entidade certificadora independente.
No âmbito do seu compromisso com a sustentabilidade e inovação, a pescaria de cerco da sardinha ibérica foi selecionada para receber uma bolsa de investigação para estudantes do Ocean Stewardship Fund (OSF) do MSC. Este apoio financeiro, atribuído ao projeto liderado pela Universidade de Vigo e pelo IPMA, permitirá avançar na integração de critérios ecossistêmicos na gestão do stock de sardinha. O projeto desenvolverá um modelo atualizado que incorpora o papel da sardinha como espécie-chave na cadeia alimentar marinha, garantindo que as estratégias de gestão sejam mais resilientes face aos desafios ambientais.
A sardinha, um pilar de uma alimentação saudável e sustentável
O pescado azul é um elemento essencial numa dieta equilibrada. De acordo com um estudo recente publicado no British Journal of Nutrition, a sardinha é especialmente recomendada pelas suas qualidades nutricionais. Trata-se de um alimento naturalmente rico em proteínas, ácidos gordos ómega-3, cálcio e vitaminas D e B12 — nutrientes fundamentais para a saúde do coração, dos ossos e do cérebro. Com forte presença na gastronomia ibérica, o consumo regular de sardinha é benéfico em todas as fases da vida. Para além dos seus benefícios nutricionais, optar por sardinha é também apoiar práticas de pesca sustentáveis que respeitam o meio marinho e asseguram a disponibilidade deste recurso no futuro.
"A certificação MSC da pescaria de cerco da sardinha portuguesa é o reconhecimento de um esforço coletivo notável. Chegar até aqui exigiu sacrifícios significativos por parte dos pescadores e armadores — desde longos períodos de imobilização da frota até à redução significativa das capturas, sempre com o objetivo de recuperar o stock e garantir a sustentabilidade do setor. Esta Certificação não é apenas uma distinção ambiental: é a prova de que vale a pena investir na gestão responsável dos recursos e na perseverança das comunidades piscatórias que vivem do mar", destaca Humberto Jorge, presidente da ANOPCERCO.
“Desde as OPPs do Cantábrico, que estamos convictos, de que o caminho a seguir é trabalhar na sustentabilidade das nossas pescarias, e o selo MSC é uma ferramenta importante para o conseguir. MSC significa para as nossas pescarias visibilidade no mercado, garantia de que os consumidores adquirem um produto sustentável e transparência em todo o trabalho realizado pela sustentabilidade dos recursos pesqueiros por parte da nossa frota portuguesa e espanhola, composta por mais de 300 embarcações”, sublinha Norberto Emazabel, presidente da OPPs Cantábrico.
“Parabéns a toda a frota espanhola e portuguesa por este enorme êxito. A frota teve de recuperar um stock que se encontrava numa situação muito difícil e demonstrou grande visão ao consegui-lo. Para tal, foi necessário fazer sacrifícios, como reduzir o esforço de pesca, e desenvolver novas ferramentas, como um plano de gestão e regras de controlo de capturas com base numa abordagem de precaução. Estas medidas permitiram que a situação da sardinha hoje seja muito melhor do que quando foi obtida a certificação há 15 anos. Além disso, estão agora muito melhor preparados para responder às mudanças no stock e garantir que, no futuro, a sardinha continue a ser sustentável.
Este não é um ponto final, mas sim uma vírgula num caminho contínuo de melhorias que as frotas deverão continuar a implementar para manter a certificação. Os meus mais sinceros parabéns à frota de cerco espanhola e portuguesa pela liderança demonstrada. Espero que agora os mercados saibam reconhecer e valorizar este esforço pela sustentabilidade que a frota realizou — e continuará a realizar”, frisa Alberto Martín, diretor do MSC para Espanha e Portugal.
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